domingo, 15 de junho de 2014

Saudade

Aquela história que todos já estão cansados de ouvir: saudades é uma palavra que não tem tradução. Mas alguém já parou pra pensar no que isso quer dizer?
Se dá nome ao que se acha importante. É fácil dizer que se sente falta de alguém em qualquer língua do mundo, mas no Brasil, sentir falta tem uma importância gigantesca. O índio sentia falta das suas tradições antes do português chegar; o negro sentia falta da sua terra, da sua família, dos seus rituais. O europeu sentia falta do velho mundo. E só em uma terra onde todos sentem falta de algo é que este sentimento precisa de um nome. Saudade.
Eu sinto saudades. No plural mesmo, pois são várias.
Saudade de pessoas, de lugares, de conversas. Saudades de coisas grandes e de pequenos olhares. De grupos e de indivíduos. Saudades de momentos de paz, e de outras tantas brigas, porque não?
Eu sinto uma saudade que me aperta o peito de algumas pessoas. E o interessante é que algumas delas eu não conversei mais que duas ou três vezes, mas se tornaram nessas poucas vezes tão impactantes que me fazem falta, produzindo essa maldita saudade. Com outras pessoas vivi dia após dia por anos, e muito anos, e sinto falta delas hoje. Saudade que não se expressa. Saudade que aperta bastante o peito e cria um vazio.
Sinto saudade de lugares onde estive. Alguns lugares simplesmente pelo lugar, é claro, mas normalmente o que me faz ter saudade de algum lugar é que estive lá com pessoas. Pessoas que eu gostaria de estar perto mais uma vez. Pessoas que me foram importantes e que por algum motivo estão longe.
Sinto saudade de muita gente. Gente que está longe. Gente que me ensinou a viver. Gente que me ensinou a amar. Sinto saudades de quem passava as madrugadas comigo no telefone. Sinto saudade do abraço que fazia com que o dia (e a vida) valesse a pena. Saudade do olhar de carinho, e de quem eu sei que não vou mais ver.
Saudade do tempo em que ser feliz se conjugada no presente, e não no passado. Saudade de grandes apresentações, e também de conversas ao pé do ouvido. Saudade de conversas sinceras que aconteciam na volta da escola. De discussões ridículas, brigas idiotas e de pessoas que eu queria bem longe, mas hoje fazem uma falta gigantesca.
Saudade de um tempo em que o céu é azul. Hoje a vida é escura; tão escura quanto pode ser. Saudade de quando me chorava de rir.
Saudade dos tempos que passaram. Saudade de quando eu tinha certezas. De quando eu tinha fé. De quando tudo o que eu queria era que ela me sorrisse. Hoje tudo é certeza, indiferença. Saudade.
Saudade de quando as coisas tinham significado. Não há mais sentido senão sobreviver. Mas um dia houve. Um dia tudo fez sentido, tão claro quanto o cristal. E esse tempo me faz, sentir saudades.
Saudade do tempo em que não precisava fingir que tudo estava bem, porque tudo estava de fato bem. Saudades de fazer parte onde quer que estivesse, e de poder o que quisesse.
Saudade.
Saudade de coisas grandes. Mas também saudades de um olhar que eu nunca mais vi, de um abraço que eu nunca mais senti, de uma voz que eu nunca mais ouvi. De um sentimento que, com o vento, se foi e com o tempo, passou.
Saudade.

Palavras

Se há o que dizer, que se diga.
Mas as palavras podem sem pesadas, e precisam ser pensadas.
De novo, é interessante como as pessoas não se colocam a pensar. Pensar sobre o que vão dizer. Pensar inclusive sobre seus próprios pensamento.
Quanto mais se pensa, quanto mais se aprende, quanto mais se vê, mais se percebe que o que você sabe não é nada. Nada mesmo. E que suas palavras talvez não tenham tanta importância assim. Talvez importância nenhuma. E porque continuar dizendo tanta besteira quando há muito mais proveito em ouvir?