segunda-feira, 14 de julho de 2014

Gritar

Eu queria apenas um lugar onde pudesse gritar. Alguém pra quem reclamar e que somente emprestasse um abraço. Se alguém pudesse ouvir, tudo ficaria mais fácil. Ninguém, porém, tem culpa. E nem tem a obrigação também. Cada pessoa tem sua vida, convenhamos, e suas obrigações e prioridades. Coloque-se no seu lugar, rapaz. Acustuma-te à lama que te espera foi a frase de Augusto dos Anjos. Acustuma-te à lama que te espera.
Nada vai mudar, garoto. Cresça. Entenda. E pare de achar que algo vai melhorar.
Se não há opção de voltar atrás, ande em frente portanto, mesmo que em não haja esperança. Esperança.
Abandone toda a esperança. Dante poeta.
Um dia, e depois mais um, e outro igual. Dias iguais, dias a mais. Dias de inércia.
Dias em que não se chora, pois não há lágrimas. Dias de samba, da tristeza que balança. Dias de pensamentos desconexos. Tão desconexos quanto o que escrevo. Nada mais faz sentido.
Comecei falando o quanto queria gritar. Queria expressar o que sinto, na realidade. De alguma maneira. Em algum lugar. E que alguém pudesse fingir ouvir. Apenas.

domingo, 15 de junho de 2014

Saudade

Aquela história que todos já estão cansados de ouvir: saudades é uma palavra que não tem tradução. Mas alguém já parou pra pensar no que isso quer dizer?
Se dá nome ao que se acha importante. É fácil dizer que se sente falta de alguém em qualquer língua do mundo, mas no Brasil, sentir falta tem uma importância gigantesca. O índio sentia falta das suas tradições antes do português chegar; o negro sentia falta da sua terra, da sua família, dos seus rituais. O europeu sentia falta do velho mundo. E só em uma terra onde todos sentem falta de algo é que este sentimento precisa de um nome. Saudade.
Eu sinto saudades. No plural mesmo, pois são várias.
Saudade de pessoas, de lugares, de conversas. Saudades de coisas grandes e de pequenos olhares. De grupos e de indivíduos. Saudades de momentos de paz, e de outras tantas brigas, porque não?
Eu sinto uma saudade que me aperta o peito de algumas pessoas. E o interessante é que algumas delas eu não conversei mais que duas ou três vezes, mas se tornaram nessas poucas vezes tão impactantes que me fazem falta, produzindo essa maldita saudade. Com outras pessoas vivi dia após dia por anos, e muito anos, e sinto falta delas hoje. Saudade que não se expressa. Saudade que aperta bastante o peito e cria um vazio.
Sinto saudade de lugares onde estive. Alguns lugares simplesmente pelo lugar, é claro, mas normalmente o que me faz ter saudade de algum lugar é que estive lá com pessoas. Pessoas que eu gostaria de estar perto mais uma vez. Pessoas que me foram importantes e que por algum motivo estão longe.
Sinto saudade de muita gente. Gente que está longe. Gente que me ensinou a viver. Gente que me ensinou a amar. Sinto saudades de quem passava as madrugadas comigo no telefone. Sinto saudade do abraço que fazia com que o dia (e a vida) valesse a pena. Saudade do olhar de carinho, e de quem eu sei que não vou mais ver.
Saudade do tempo em que ser feliz se conjugada no presente, e não no passado. Saudade de grandes apresentações, e também de conversas ao pé do ouvido. Saudade de conversas sinceras que aconteciam na volta da escola. De discussões ridículas, brigas idiotas e de pessoas que eu queria bem longe, mas hoje fazem uma falta gigantesca.
Saudade de um tempo em que o céu é azul. Hoje a vida é escura; tão escura quanto pode ser. Saudade de quando me chorava de rir.
Saudade dos tempos que passaram. Saudade de quando eu tinha certezas. De quando eu tinha fé. De quando tudo o que eu queria era que ela me sorrisse. Hoje tudo é certeza, indiferença. Saudade.
Saudade de quando as coisas tinham significado. Não há mais sentido senão sobreviver. Mas um dia houve. Um dia tudo fez sentido, tão claro quanto o cristal. E esse tempo me faz, sentir saudades.
Saudade do tempo em que não precisava fingir que tudo estava bem, porque tudo estava de fato bem. Saudades de fazer parte onde quer que estivesse, e de poder o que quisesse.
Saudade.
Saudade de coisas grandes. Mas também saudades de um olhar que eu nunca mais vi, de um abraço que eu nunca mais senti, de uma voz que eu nunca mais ouvi. De um sentimento que, com o vento, se foi e com o tempo, passou.
Saudade.

Palavras

Se há o que dizer, que se diga.
Mas as palavras podem sem pesadas, e precisam ser pensadas.
De novo, é interessante como as pessoas não se colocam a pensar. Pensar sobre o que vão dizer. Pensar inclusive sobre seus próprios pensamento.
Quanto mais se pensa, quanto mais se aprende, quanto mais se vê, mais se percebe que o que você sabe não é nada. Nada mesmo. E que suas palavras talvez não tenham tanta importância assim. Talvez importância nenhuma. E porque continuar dizendo tanta besteira quando há muito mais proveito em ouvir?

domingo, 4 de maio de 2014

Fazer parte

Uma das necessidades básicas do ser humano é sentir que faz parte de um grupo. Muitos comportamentos, muitas ações e maneiras de falar e pensar podem ser explicadas por este fato.
Um homem fará o que estiver ao seu alcance para ter em si este sentimento de pertencer, para olhar para o lado e ver iguais. Muitas vezes a maneira encontrada de se sentir assim é com características deste grupo que o distingue dos demais, mas que demonstra o quanto este individuo esta incluso neste grupo especifico. Roupas, gírias e modos de agir são definidos assim, normalmente de forma inconsciente, para que indivíduos se sintam menos individuais. O tamanho do grupo não importa... duas pessoas numa relação são um grupo em que o ser humano se sente preenchido em fazer parte, e centenas de milhões de pessoas numa nação também. O importante é o sentimento de compartilhar que existe nas relações humanas.
Olhar e não se sentir parte de um grupo é provavelmente uma das maiores dores possíveis. O homem é um animal naturalmente social, diria Aristóteles já há mais de dois séculos.
E ele tinha razão.

sábado, 3 de maio de 2014

Pensar sobre Pensar.

E, novamente, me coloco a pensar.
É inevitável e de novo estou tentando entender alguma coisa. E desta vez tento entender o porque as pessoas não querem entender. O quão diferente seria o mundo se as pessoas simplesmente se dedicassem a pensar.
Eu estaria mentindo, claro, se dissesse que pensar é um exercício simples: não o é. Pensar sobre o mundo, sobre tudo o que acontece e sobre seus motivos pode te deixar bem confuso. Cada pergunta respondida levanta centenas de novas questões. Cada nova conclusão gera argumentos inúmeros a serem concluídos. Será este o motivo pelo qual as pessoas não se dedicam a pensar? Pensar cansa, e muitas vezes dói.
Permita-me situar o leitor sobre o tipo de pensamento a que me refiro. Estamos, é claro, pensando a todo o tempo, inclusive durante o sono. Porém em quanto deste tempo buscamos organizar nossos pensamento? Buscamos, sinceramente, responder questões que se colocam à nossa volta? Muitas destas questões parecem simples, mas quando postas à luz da busca sincera pela verdade sobre elas, se revelam muito mais complexas; outras questões podem ser para nós algo já resolvido, de tal forma que acreditamos nem ser necessário pensar sobre elas novamente, e então nos enganamos redondamente, pois estas costumam ser aquelas que devem ser mais fortemente questionadas: questionar as respostas que já conhecemos pode nos revelar um mundo novo de perguntas não respondidas e nos mostras o quanto não sabemos nada sobre o mundo.
Questiono, penso e reflito sobre coisas simples. Questiono os motivos pelo qual a vida é como é, por que as coisas são como são. Penso no que é o tempo. Reflito em porque tal pessoa é considerada tão bela, e aquela outra tão feia. E então penso em porque o tempo é como é, e faz com que as pessoas consideradas belas hoje sejam chamadas de feias amanhã. O que é belo, então?
E hoje, então, me pego pensando sobre pensar. Sobre porque as pessoas simplesmente não pensam. Sobre como elas podem seguir o que lhes é dito de forma tão cômoda; sobre porque ninguém questiona os dogmas que lhes é colocado. Quanto custa raciocinar (já que o Homem se orgulha tanto de ser um 'animal racional')?
A verdade nunca está na superfície. Aqueles que realmente a quiserem encontrar, deverão mergulhar nas questões, e descobrir um universo de problemas a serem resolvidos antes ter qualquer relampejo de verdade. Antes disso, tudo o que se tem são falsas certezas.
Talvez (e aqui algo em que me pego pensando frequentemente) não pensem porque, como já disse, pensar pode doer. Costuma doer. Não pensar e aceitar o que lhe é dito é muito mais fácil. Aceitar o que você vê e ouve como verdade é absurdamente mais confortável. Evita o turbilhão de pensamentos e os sentimentos oblíquos que sinto. Evita a dor de tentar, tentar, e não conseguir encontrar a resposta para questões que fariam toda a diferença no seu dia.
Pensar dói.
E nisso penso.